Nós: Os Iconógrafos de Lins

Talvez para todos, com a reabertura, se havia alcançado um propósito, mas para nós, artistas, religiosos e missionários, o desafio começava. Estávamos, e ainda estamos, muito longe de poder afirmar que conseguimos o objetivo que nos trouxe até Lins.

Não é fácil dividir a vida entre a arte de restaurar e a tarefa religiosa, mesmo quando um destes trabalhos esteja em função do outro.

As pessoas não entendem que a Arte Sacra e, especialmente, a iconografia, é uma maneira silenciosa de evangelizar, é um diálogo pessoal e privado entre a história sagrada e os fiéis que adentram ao templo.

Restaurar “Panaghya Tsambika” já é uma missão religiosa, um culto religioso.

O verdadeiro iconógrafo é um religioso que conhece as Escrituras, a história sagrada; um religioso que meditou sobre ela e com a força de sua fé, através do dom recebido, transmite-a em silencioso respeito.

O iconógrafo é um instrumento colocado a serviço de Deus incondicionalmente.

Ele não vai atrair grandes multidões, ou vai ouvir os aplausos de uma plateia acalorada, não vai conseguir nada para com que alimentar seu ego, ele vai realizar o seu trabalho na solidão, sem poder, sequer, expor o seu pensamento. O salário para o seu trabalho é, geralmente, insignificante para serviço especializado, delicado e cuidadoso que realiza.

Mas até chegar a Lins, apesar de que nossas vidas já fossem vidas religiosas e totalmente dedicadas ao estudo e execução da arte, nunca nos tinham exigido tamanha renúncia, nem nos haviam pedido que aceitássemos tantas dificuldades e austeridade.

Lins significou-nos, viver em toda a sua dureza, a realidade dos votos religiosos.

Em 27 de janeiro, tanto Nectarios como eu, reafirmamos o compromisso com “Panaghya Tsambika” fazendo os votos perpétuos em frente ao seu altar e nos convertemos assim, em monges.

Mas um templo sem serviços religiosos é um templo morto, e em 30 de maio de 2013, Celebração de Corpus Christi, com a permissão do Superior, nosso Arcebispo e as autoridades eclesiais correspondentes, Nectarios foi ordenado sacerdote em nosso Santuário Bizantino de São Teodoro.

Nossa entrega, mediante este último ato, foi total.

O Instituto para o qual aceitamos pertencer como religiosos é muito jovem, não é de forma alguma uma ordem poderosa, financeiramente solvente. Se fosse, creio que nunca teria aceitado o desafio que significa a “Igreja dos Gregos”.

Nosso Instituto está ainda em uma fase sonhadora, pouco convencional e nada especulativa, pela qual passam as ordens religiosas ao formar-se. Por isso, a confiança na Divina Providência foi mais real do que teórica.

Mas, apesar da grande soma que o nosso fundador, Pe. Theodoro, providenciou para iniciar a restauração, não demorou muito para que ficássemos sem fundos para continuar.

Aqui nascia um problema sério. Muito sério.

Poderíamos doar o trabalho, mas não nos era possível suportar os enormes custos com os materiais.

Olhamos ao nosso redor.

A realidade bateu muito forte.

Distantes da fronteira de nosso país, lutando ainda com o idioma, quase sem comunidade, sem jurisdição territorial em Lins, como parte da Eparquia Greco-Melquita Católica de São Paulo, sem conhecer os costumes sociais das comunidades cristãs na área, e nenhuma fonte de apoio econômico … o “SIM” tomou dimensões avassaladoras.


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