STEFANO VASSILIADIS (Parte 2)

vassiliadis“Todos os gregos se foram de Lins.”

A frase soa como uma declaração que está suspensa de um céu de interrogativas. Eles marcaram uma época na cidade, porque até o nome das ruas exibem sobrenomes gregos e aí, como um ícone de sua cultura, a “Pérola Bizantina”, eleva sua presença homérica, resistindo ao tempo e às ausências.

E este é o templo de Stefano. Este é o legado que só um altruísta pode conceber e construir.

E o altruísmo é algo difícil de entender em um mundo consumista, competitivo e individualista, talvez esta seja a razão porque surgem tantas histórias diferentes com relação à sua construção e às razões que a originou.

Mas depois de conviver já, por mais de dois anos com suas paredes, com suas oliveiras, com seus velhos roseirais, com a carga energética de sua história lutando contra a decadência, comecei a compreender muitas coisas.

Era como se cada objeto, cada canto de sua construção, cada espaço, guardasse muitas histórias para contar.

Talvez para quem tenha nascido e vivido vendo a velha estrutura da igreja, ela não será mais do que isso: uma velha igreja sucumbindo à deterioração. Mas para aqueles que, como nós, viemos ao seu encontro, guiados pela mão do Espírito Santo, para nós que ignorávamos sua existência e fomos chamados pela Providência como trabalhadores de sua reconstrução, ela é muito mais do que uma igreja, ela é a nossa causa, nossa missão e uma responsabilidade que pelas circunstâncias que nos trouxeram até ela, obviamente não veem da terra, mas proveem de Deus.
Logo, ficaram claras muitas coisas para nós.

O primeiro do qual nos demos conta, era de que ninguém entendia que tipo de religião se tratava a Ortodoxia. Estigmatizada pela ignorância do povo e a negligência ou indiferença da parte ocidental da Igreja Católica Apostólica, a igreja de Vassiliadis, levantada por sua fé profunda à Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, havia se transformado, no imaginário popular, em um templo profano e quase temido. Isso explicava bastante o seu estado de abandono.

Também encontramos vestígios inequívocos dos diferentes períodos que tinha atravessado, e ainda não chegamos a montar o quebra-cabeça do santoral a que foi dedicada ao longo dos anos.

Entendemos também que a convulsionada história de “Panaghya Tsambika”, pouco a pouco, como sempre aconteceu com as grandes obras, foi diluindo a figura de seu fundador, e ali nasceu a “Igreja dos gregos” deixando de ser a Igreja de Vassiliadis.

Nós, como Stefano, como os gregos, como Costas Saltaferis, que pintou os maravilhosos e raros ícones de influência veneziana da igreja, também somos estrangeiros, e também como eles, nos identificamos com os filhos destas terras. Mas logo percebemos que o importante não era que nós nos identificássemos com eles, o importante era que eles se identificassem conosco e, portanto, se necessitava tempo, paciência, perseverança e grande tenacidade. A recuperação da igreja dependia completamente de nossa atitude. Muito mais do que dependia de nossa perícia e de nossas mãos.

Devíamos “ficar” apesar de todas as dificuldades, apesar de qualquer circunstância, isso, e apenas isso faria a diferença.
(Continua na Parte III)